Uma das razões de insucesso de algumas reestruturações financeiras é o diagnóstico incorreto dos passivos, em especial quanto ao seu montante.
Nesses 28 anos em reestruturação de dívidas já vi de tudo.
Inicialmente sempre solicitamos resumo dos passivos do grupo detalhando os financeiros, tributários, fornecedores, trabalhistas, “amigos”, intergrupo e outros, além das informações contábeis e financeiras.
Normalmente, entre o primeiro resumo apresentado e o nosso diagnóstico as diferenças chegam a ser substanciais, e pelas mais diferentes razões.
Uma das principais diferenças ocorre nas tributárias, seja pela não inclusão dos valores de multas e juros, nos casos de inadimplência, ou pelo total esquecimento quando já ajuizadas.
Da mesma forma na apuração das dívidas financeiras ou comerciais ajuizadas, cujos valores são registrados sem atualização.
Quanto às dívidas trabalhistas, sejam elas ajuizadas ou não, nem sequer são reconhecidas na maioria dos casos.
Muitas dívidas ajuizadas são simplesmente esquecidas, pela própria morosidade do judiciário.
E há as dívidas realmente desconhecidas, ou mesmo inexistentes até um determinado momento, como aquelas geradas por autuações fiscais.
Isso sem contar aquelas dívidas que o devedor “sabe” que o credor é violento, ou quase um assassino, mas que nunca matou ninguém.
E temos os credores parentes e amigos que cobram nos finais de semana e em jantares, além das fofocas, e que tem um efeito mais eficaz que o Serasa ou o protesto de títulos.
Não podem deixar de ser consideradas as dívidas de outras empresas do grupo ou dos sócios, que poderão ser afetadas em função da renegociação. E dependendo dos covenants poderão ter seus vencimentos antecipados.
Não menos importantes são as dívidas que poderão afetar os avalistas em outras atividades ou negócios deles.
Recentemente fechamos um contrato em que as dívidas montavam R$ 19 milhões. Nos primeiros meses a empresa sofreu uma fiscalização e uma autuação de R$ 3,5 milhões. Ainda, ações trabalhistas (algumas oriundas da reestruturação) devem somar mais de R$ 700mil.
Um outro caso é de um cliente cujos passivos iniciaram em R$ 90 milhões de dívidas privadas e R$ 110 milhões de tributárias, e ao final resultaram em mais de R$ 120 milhões nas privadas e quase R$ 300 milhões nas tributárias. Se não fosse a possibilidade de transação extrajudicial seria o caso de falência.
Outro cliente de grande porte e com balanço auditado tinha duas execuções, uma registrada por R$ 11 milhões e outra por R$ 7 milhões, cujos valores atualizados foram R$ 26 e R$18 milhões respectivamente.
Raramente as dívidas apresentadas no momento da nossa contratação ficam no montante apresentado. Crescem, ou desaparecem, como um passe de mágica.