Os juros no Brasil são historicamente tão caros que o assunto já virou tema popular, discutido até em mesa de botecos. No meio empresarial, e mesmo na imprensa especializada, sequer é destaque como notícia. Seria uma notícia requentada.
Os juros altos são uma herança cultural. Tem origem na hiperinflação da década de 90, quando o que conhecemos como ciranda financeira se popularizou. Todos queriam ganhar com os juros, seja no overnight, na valorização do dólar, na compra financiada do carro, e o mercado financeiro era a base de sustentação dos negócios.
Pessoas e empresas ficavam ricas ou quebravam por causa dos juros, que ultrapassavam 12.000% ao ano!
Estratégias do mercado financeiro foram criadas em função dos elevados juros, que ultrapassavam 3% ao dia.
Uma das mais famosas era o ganho com o floating (receita apropriada pelos bancos por meio dos rendimentos dos recursos mantidos em conta pelos clientes), e era obtido de diversas formas.
A mais tradicional era pela retenção dos valores das cobranças por 2, 3 ou até 5 dias, sem repassar os valores ao cliente.
Ou, contratando a operação numa data e disponibilizado os recursos dias depois, cobrando juros desde a data da contratação e não da liberação dos recursos.
E dá-lhe 3% ao dia de lucro!
Outra consistia na não aplicação do “pro rata” nas operações pós fixadas, em prazos fracionados.
Os lucros do mercado financeiro eram fáceis e robustos, aliás, como ainda são!
Por outro lado, como em qualquer atividade com altos lucros, os profissionais são valorizados, as instalações nababescas, filiais se espalham na busca de mais negócios, os investimentos são constantes e elevados, os programas de meritocracia são caros e exagerados.
Assim aconteceu nas empresas do mercado de tecnologia, na indústria petrolífera, no setor automotivo, na indústria aeroespacial, indústria de fundos e tantos outros.
Uma vez acostumados com os prazeres da vida, cada vez exigimos mais prazeres. E para sustentar esses prazeres é necessário cada vez mais lucros, além de todas as demais explicações oficiais para os elevados spreads no Brasil.
Enquanto o produto for indispensável, ou insubstituível (e aqui falo de qualquer produto), os custos das “gorduras” podem ser repassados aos clientes, como ocorre com os spreads bancários.
Mas, o mercado vai buscando alternativas e as altas margens atraem novos concorrentes.
O pior é que “desmontar” essa estrutura cara custa caro e leva muito tempo.
No caso do mercado financeiro, significa fechar agências e escritórios, dispensar pessoal operacional, substituir profissionais que se tornaram caros, alterar as políticas de meritocracia (e de cima para baixo), investir em tecnologia, educar os acionistas para lucros menores e gastar muito dinheiro na frente.
Por tudo isso, penso que a redução dos spreads bancários no Brasil levará ainda muito tempo.