Muitos resumem a renegociação de dívidas em carência, prazos de pagamentos, garantias e taxa de juros. E com esses quatro conceitos básicos se propõem a negociar suas dívidas, ou a prestar consultoria nessa atividade, e o pior, cobram por essa consultoria.
Mas na verdade esses quatro parâmetros, são aqueles que interessam ao credor, e não ao devedor. Poucos conseguem enxergar isso, apesar de ser elementar, quase ginasiano.
É o titular do crédito quem deve se preocupar em ter garantias, cobrar juros (remunerar capital e risco), e sair do risco dentro de algum prazo razoável. Esses são os conceitos básicos de gestão de risco de crédito!
Aliás, essa forma de renegociação é o padrão utilizado pelo mercado financeiro, e por grandes companhias, que copiam os modelos de gestão de risco adotado pelo mercado financeiro.
Isso, sem dúvida, é ENTENDER DE CRÉDITO!
E entender de DÍVIDAS?
Aí a questão exige um conhecimento maior.
Não adianta apenas saber calcular, ou conhecer juros de mercado. É necessário ter uma larga vivência em gestão de empresas e em crise financeira. Gestão de empresas sólidas e fortes não ajuda muito.
Antes de avaliar as dívidas, é necessário analisar o fluxo de caixa, ou melhor, a geração operacional de caixa, e planejar a vida sem crédito. Como comprar, produzir, vender, e receber, sem crédito de terceiros, ou com crédito restrito.
Para entender de dívidas, é necessário conhecer taxas de juros, mas também é indispensável ter uma vasta experiência em compras, vendas, operação, RH, risco de crédito e, principalmente, gestão de fluxo de caixa.
Afinal, credores não são apenas os credores financeiros.
É necessário negociar as dívidas com os fornecedores, mas também negociar a continuidade do fornecimento.
Como fazer isso se o devedor é, por exemplo, uma concessionária de veículos, cujo maior credor é o seu único fornecedor? Ou num posto de gasolina?
E numa indústria onde a principal matéria-prima é fornecida por um monopólio?
Ou no setor de aviação, onde os fornecedores, além de raros, são homologados por outros órgãos como ANAC?
Concluindo, para se entender de dívidas é indispensável que os profissionais entendam do negócio, sob pena da renegociação resultar na inviabilidade da operação.
Somente conhecendo o “outro lado da mesa” dos diversos tipos de credores, é que se pode desenvolver boas estratégias para a renegociação das dívidas com todos.