Na área de recursos humanos a contratação de colaboradores com ou sem experiência é sempre um dilema e uma questão muito polêmica.
Pois bem, na área de reestruturação de dívidas e gestão de crises vivemos o mesmo dilema: Atender empresas “com experiência” em crises financeiras e empresas “sem experiência”.
A própria definição de “com experiência” ou “sem experiência” já é uma boa dica das situações que encontramos, mas vale a pena analisar como cada um deles se porta em situações de crise.
Os clientes “com experiência” são aqueles que, periodicamente, enfrentam uma crise financeira ou convivem por longos períodos com a crise.
São empresários e executivos acostumados a situações de estresse, de déficit de caixa, riscos jurídicos, pressão dos credores, clientes e a lidar com a insegurança dos colaboradores. Algumas das suas características são o otimismo e a persistência, pela própria experiência de se manterem vivos durante as várias crises, e conhecerem as diversas alternativas para superar as crises.
Se, por um lado, lidar com clientes “com experiência” facilita o nosso trabalho, por outro, dificulta o planejamento e a implementação das estratégias de restruturação porque muitas já foram utilizadas de maneira inadequada.
Reperfilamento de dívidas, constituição de garantias, substituição de fornecedores, busca de investidores, reduções de custos, monetização de ativos e mais uma gama de opções utilizadas, sem que resultem numa solução definitiva para a crise.
Com a “experiência” gastam a maioria das “balas de prata” da reestruturação, e até inviabilizam a utilização das formas mais drásticas de reestruturação como a Recuperação Judicial ou Extrajudicial, até chegarem à próxima crise.
Já os clientes “sem experiência” são aqueles que pela primeira vez se deparam com uma crise de resultados e de liquidez.
Esses têm medo de tudo e de todos e, pelo próprio medo, a preocupação inicial é a sua imagem perante a família, os amigos, os fornecedores de longa data, os clientes, os colaboradores, os gerentes de banco, etc.
Visando preservar a imagem de bom amigo ou “parceiro”, captam empréstimos a qualquer custo e em qualquer condição, vendem ativos, dão garantias a todos, pagam qualquer preço aos fornecedores, aceitam quaisquer juros e produtos dos bancos, e vendem barato seus produtos. Além disso, não fazem redução de custos para não “estragar a imagem”.
Pela falta de experiência, adotam medidas protelatórias sem perceber a cilada em que estão se metendo e acabam se enforcando com a própria corrente de ouro. Sem ter a possibilidade de, um dia, tornarem-se empresários “com experiência” em crises.
Resumo da ópera é que não existem clientes “com experiência” em lidar com crises. Por razões diversas, os que se acham “com experiência” e os que são “sem experiência” cometem os mesmos erros, apenas com formas diferentes.