Antes de qualquer iniciativa junto aos credores algumas avaliações são necessárias, diria indispensáveis, para o desenvolvimento do projeto de reestruturação de passivos.
Essas avaliações indicarão qual será a melhor estratégia e a melhor alternativa para a superação da crise. Se a solução será via renegociação direta com cada um dos credores, se a Recuperação Judicial se mostra mais viável, ou se o remédio será a Recuperação Extrajudicial.
Algumas avaliações são óbvias, como o montante total das dívidas, fluxo de caixa projetado e geração operacional de caixa, por exemplo. Mas não são elas que definem qual será a melhor alternativa para a renegociação com os credores.
É a avaliação estratégica que ditará os rumos da reestruturação. Entre as diversas avaliações a serem feitas (e não são poucas!) destaco:
A CONCENTRAÇÃO OU PULVERIZAÇÃO DE CREDORES
É uma avaliação importante para simular as possibilidades de aprovação de um plano de Recuperação Extrajudicial, ou a complexidade da negociação direta com os credores.
DEPENDÊNCIA DO MERCADO
Essa dependência pode ser tanto no âmbito dos clientes como no âmbito dos fornecedores ou mesmo credores financeiros. Alguns exemplos: Uma concessionária de veículos (aliás já atendemos diversas) tem uma dependência umbilical da montadora que representa.
Um fabricante de produtos vendidos com recursos do Finame, tem uma dependência dos agentes financeiros (em especial do BNDES) para poder vender seus produtos.
Um fabricante de equipamentos sob encomenda precisa preservar a credibilidade, quanto ao seu futuro, para que os clientes façam encomendas.
Um supermercado precisa ter nas prateleiras produtos de marcas conhecidas, dessa forma depende das grandes marcas.
RISCO DAS GARANTIAS
Os riscos de os credores exercerem as garantias não pode ser desconsiderado no planejamento da reestruturação. Elas podem ser garantias de recebíveis que podem estrangular o fluxo de caixa da empresa; podem ser bens e/ou equipamentos indispensáveis para a manutenção ou preservação da atividade, ou mesmo ativos que podem ser monetizáveis para a capitalização da empresa.
MODELO/CULTURA DE GESTÃO DA EMPRESA
O conhecimento/entendimento da cultura e do modelo de gestão também é um fator importante para a decisão da melhor estratégia de reestruturação e passivos. Um exemplo gritante é o caso de empresas que tem informalidade em parte da operação, situação em que um pedido de Recuperação Judicial pode ser extremamente arriscado.
Outra questão é o processo decisório: identificar se é fundamentado em informações gerenciais, se é intuitivo ou protelatório, faz muita diferença.
Esse é um tema complexo visto que o passado deve ser analisado, mas o mais importante é avaliar as possibilidades e alternativas de adaptação do modelo/cultura para uma gestão em situação de crise.